ArtigosConteúdo Original

Orcish: Uma Mecânica Abandonada em Rookgaard

Não é segredo que Rookgaard acabou perdendo sua relevância ao longo dos anos. Mas você sabia que a saudosa ilha contava com uma mecânica completa e única, que também acabou esquecida?

Para os jogadores mais antigos, Rookgaard é uma ilha que com certeza desperta algum sentimento, afinal, ela foi o ponto de partida para todos eles! Em uma época onde o foco era trazer um verdadeiro tabuleiro de RPG para o computador, o objetivo da ilha era ambientar o jogador e ajudá-lo a aprender os princípios básicos do Tibia. A abordagem, entretanto, era bem diferente de um tutorial, e só era realmente efetiva se o jogador recém-chegado explorasse o mundo ao modo clássico, ou seja, lendo livros e conversando com NPCs. A busca pela imersão fazia, inclusive, com que alguns desses NPCs tivessem algumas reações bem inusitadas!

Rookgaard, infelizmente, acabou abandonada a própria sorte em setembro de 2014, quando o update 10.55 introduziu a ilha de Dawnport, que ocupou o posto de ilha padrão para novos jogadores, com uma pegada bem mais parecida com a de um tutorial. Infelizmente, algumas mecânicas, práticas e até mesmo mistérios acabaram sofrendo com o mesmo destino.

Mas você sabia que existe uma mecânica em Rookgaard que nunca foi utilizada de maneira prática nos continentes principais? É uma mecânica muito antiga e que, apesar de produzir resultados simples, só possui real utilidade nesta pequena ilha!

E tudo gira em torno de um NPC muito, muito antigo: o Blind Orc!

No artigo de hoje nós vamos falar sobre quem exatamente é esse NPC. E, mais importante do que isso, vamos focar na mecânica que é a causa da existência dele, e que jamais foi realmente aplicada no continente principal, salvo por mistérios e conteúdos incompletos: os idiomas do Tibia!

Afinal, quem é o Blind Orc?

Localizado no topo de uma montanha ao norte da cidade, vive o Blind Orc! Ele é o único NPC clássico de Rookgaard que não é um ser humano, exceto o The Oracle, que é uma estátua, tudo normal por aqui! Ainda que os orcs não sejam uma raça exatamente amigável aos humanos, por se tratar um orc cego, ele não é capaz de saber com quem está interagindo, logo, ele supostamente assume que está conversando com um outro orc.

O Blind Orc é um comerciante que oferece armas e armaduras. Ele se destaca por vender swords (que também podem ser obtidas como loot de skeletons e minotaurs), mas essa não é sua grande exclusividade. Nem todos sabem, mas é possível obter bow e arrows em Rookgaard, e o Blind Orc é o único NPC capaz de oferecê-los!

Mas se ele fica tão perto da cidade, qual o mistério por trás disso?

O idioma dos orcs

É aqui que entra uma antiga mecânica que se faz necessária para conseguir adquirir esses itens: o Blind Orc simplesmente não fala a língua dos humanos! Ele só é capaz de se comunicar na língua nos orcs, ou seja, em Orcish!

Um ponto notável é que essa mecânica realmente se apoia no roleplay clássico dos antigos RPGs de mesa: o jogador precisa conhecer as palavras certas e precisa se comunicar digitando elas, do contrário, o orc não entenderá o está sendo dito! E o mais interessante é que Rookgaard oferece os recursos para que o jogador aprenda, mas isso também requer muito roleplay e exploração: a NPC Amber, localizada na academia, é capaz de compreender algumas palavras de Orcish, uma vez que ela já foi aprisionada por orcs, e pode ensinar o básico ao jogador.

Mas aprender as palavras que certas, que permitem ao jogador negociar um bow e arrows, é um pouquinho mais complicado: esse conhecimento está guardado em um livro que se encontra na Bear Room Quest, uma quest de dificuldade razoável para jogadores comuns de Rookgaard.

Curiosamente, grande parte dos orcs espalhados pelo Tibia não sabem mais falar o próprio idioma nativo! A convivência frequente com os humanos, e a necessidade de se comunicar com eles fez com que as novas gerações de orcs perdessem esse conhecimento. Apenas os orcs de elite, como leaders e warlords ainda conseguem se comunicar em Orcish. A exceção fica por conta de alguns orcs muito antigos, como o próprio Blind Orc e o Orc King.

Mas afinal, de onde vem essa mecânica e por que ela ficou ofuscada?

A existência de vários idiomas, associados a diferentes raças em um mundo de fantasia não é uma exclusividade do Tibia: eles existêm desde os primeiros sistemas de RPG de mesa, como o Dungeons & Dragons, por exemplo.

Ao criar personagens para RPGs de mesa, os manuais de jogo normalmente informam quais idiomas cada raça sabe falar, sendo normalmente o idioma padrão do mundo e um idioma específico. Naturalmente, personagens interpretados por jogadores sempre serão capazes de falar um idioma que permita a comunicação entre eles. Podem existir situações, entretanto, que exijam interações com NPCs ou monstros que falam idiomas específicos, e é ai que esse conhecimento entra em prática. A comunicação é feita normalmente entre o mestre e o jogador, mas somente um jogador com aquele conhecimento pode participar da interação.

No caso, o idioma dos orcs existente no Tibia, o Orcish, foi projetado pelo próprio Knightmare nos primórdios do jogo, em uma época onde a preocupação em simular um verdadeiro RPG de mesa era muito presente! O Blind Orc foi introduzido no jogo em março de 2000, na versão 5.2, ainda considerada uma versão beta!

Apesar de humanos serem a única raça jogável do Tibia, o jogo conta com diversas outras raças: orcs, elfos, minotaurs, lizards, yalahari, djinns, deeplings, entre muitos outros.

Mas então, por que nunca houve uma exploração maior nessa área?

Apesar de ser uma mecânica muito rica e com grande potencial de imersão, ela tem duas desvantagens muito grandes: exige muitos recursos de game design para ser desenvolvida, e um esforço igualmente grande dos jogadores para usufruir dela!

O Blind Orc é claramente uma prova de conceito: um NPC que tem a simples função de vender alguns poucos itens, em um lugar que minimiza o impacto caso o jogador nunca se interesse em conversar com ele, afinal, a grande maioria seguiria para mainland, onde bows e arrows são itens comuns. Ele vende uma arma relativamente rara em Rookgaard, mas ela dificilmente seria um destaque na pequena ilha. A verdade é que sua existência gira apenas em torno de entender como seria ter um NPC que se comunica em outro idioma, qual seria o custo e o qual seria o engajamento dos jogadores.

Repare que, apesar de ser um simples NPC vendedor, o trabalho para garantir sua existência não é tão pequeno assim: além da criação do NPC, é necessário criar um idioma e, junto com ele, os mecanismos que permitam que os jogadores o aprendam! No caso, em Rookgaard, existe uma NPC, com um background compatível, que pode ensinar parte do idioma, assim como outros tipos de conteúdo que ensinam o restante.

No fim dia, não é difícil imaginar que engajamento não seja dos melhores. O Blind Orc é suficientemente simples, mas imagine como seria uma cidade inteira em que todos os NPCs exigem um idioma fictício para se comunicar! Uma coisa é o jogador precisar decorar uma ou duas palavras que podem ser usadas ocasionalmente, outra é o jogador precisar aprender uma série de palavras que precisam ser usadas com frequência.

A influência do Orcish no desenvolvimento do Tibia

É fácil perceber que a ideia original não foi amplamente utilizada, afinal, não nos vemos no Tibia falando uma variedade de idiomas fantasiosos! Ainda assim, é possível perceber que essa mecânica foi adaptada e utilizada de forma mais localizada e com muita parcimônia! Os djinns são um claro exemplo disso! Por se tratar de uma raça mágica muito antiga e inteligente, é natural que eles tenham seu próprio idioma e que, diferente do que houve com os orcs, ele não tenha se perdido ao longo das gerações.

O Tibia utilizou esse detalhe com uma certeza sutileza: não basta o jogador ir até os djinns e tentar falar com eles, afinal, ele não conhece o idioma dos djinns, que se recusam a conversar com alguém que não tem qualquer conhecimento sobre eles. Apenas após conversar com Melchior o jogador descobre como cumprimentar um djinn em seu idioma nativo, e ele precisará usar a palavra que aprendeu uma única vez!

Com essa técnica, o esforço necessário para criar a ambientação é reduzido para ambos os lados: os game designers não precisam criar um idioma que faça real sentido, e o jogador também não precisa de um esforço de aprendizagem. Mas, ainda assim, o idioma fictício está por ali ou, pelo menos, aparenta estar, o que por si só já agrega valor e enriquece a história!

Desafio do Tibia Stories!

Mas espera ai, esse é um artigo sobre Orcish, mas não tem nenhum exemplo do idioma no artigo!

É isso mesmo, porque aqui, o Tibia Stories está lançando um desafio: para você que nunca teve a oportunidade de conversar com o Blind Orc, crie um personagem em Rookgaard e tente se comunicar com o Blind Orc sem consultar spoilers! Esse artigo já deixou várias dicas de quem pode ensinar o básico e onde você pode aprender o restante! Seu objetivo é conseguir pedir um bow e algumas arrows para o Blind Orc!

Animou? Tire screenshots do processo e mande para nós em nosso Instagram, @tibiastories!

Conclusão

Hoje nós relembramos um pouquinho sobre um antigo NPC do Tibia, em uma região que marcou época no jogo! Relembramos também uma antiga mecânica que, em sua forma mais completa, ficou praticamente abandonada em Rookgaard mas que, ainda assim, teve grande influência no desenvolvimento de partes importantíssimas do jogo!

E ai, gostou de relembrar desse NPC que, na infância de muitos, não fazia muito sentido? Acha que vale uma visita para matar a saudade? Conte para nós em nossa página do Instagram!

Scarela

Administrador e fundador do Tibia Stories, jogador desde 2003, apaixonado pela lore jogo!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *