Uma análise sobre a história de Rookgaard
Rookgaard: uma ilha isolada onde grande parte dos jogadores, incluindo as maiores lendas que conhecemos, deram seus primeiros passos. Por muitos anos, Rookgaard foi primeira experiência de qualquer jogador que ousasse se aventurar pelo Tibia.
É um fato que a antiga ilha foi abandonada para morrer. Imóvel já há uma década, ela ainda permanece no jogo, meramente como uma lembrança do que um dia já foi.
Nem todos os jogadores passaram pela experiência de jogar em Rookgaard, especialmente nos tempos mais antigos. Com a introdução de Dawnport, no update 10.55, em 15 de Setembro de 2014, novos jogadores passaram a encontrar uma primeira experiência um pouco mais amigável para reais iniciantes.
No artigo de hoje, vamos focar em Rookgaard! Vamos relembrar um pouco do que foi Rookgaard e analisar sua provável concepção original. Vamos também falar sobre como a ilha evoluiu ao longo dos anos, e pontuar algumas particularidades únicas do lugar.
O passado de Rookgaard
Rookgaard, a lendária ilha inicial, costumava ser o primeiro passo de qualquer novo jogador. Uma ilhada criada com o propósito de introduzir o jogo, fornecendo experiências simplificadas que preparariam os novos jogadores para o real conteúdo que estaria por vir.

O primeiro fato sobre Rookgaard, e é fundamental manter isso em mente durante essa análise: é um local extremamente antigo! A ilha foi introduzida no jogo na versão 5.2, no dia 17 de Março de 2000.
Antes de falar sobre Rookgaard, vamos dar um passo atrás e olhar para o Tibia, e o seu original propósito: simular uma mesa ou tabuleiro de RPG! Isso é especialmente notável quando olhamos para alguns elementos básicos do jogo: a interação com NPCs sempre aconteceu através do teclado, por exemplo, ao invés de opções pré-definidas. Você é livre para digitar qualquer coisa que queira, provocando diversas reações.
Naturalmente, as funcionalidades e interações do jogo foram evoluídas. No Tibia atual, por exemplo, existem interfaces para compra de itens. No Tibia do passado, compras e vendas em NPCs se resumiam a, literalmente, conversar com o NPC e pedir para comprar ou vender um item.
A realidade é que, apesar da intenção da velha ilha, o primeiro contato com o jogo não era exatamente amigável. As pessoas simplesmente apareciam no templo de Rookgaard, carregando uma club, uma jacket e uma sacola com uma tocha e uma maçã, tendo que desbravar o mundo por conta própria. Não haviam instruções claras sobre como utilizar a interface do jogo, ou até mesmo sobre a necessidade de alguns itens considerados essenciais, como ropes ou shovels.

Ainda assim, dá para dizer que Rookgaard foi, de fato, desenhada para ser uma experiência introdutória. Por sete níveis, o jogador fica restrito a utilizar somente mecânicas básicas do jogo. Ainda que de forma simplificada, o jogador já encontrava boa parte do que existiria no continente principal: monstros, cavernas, comerciantes, quests e até mesmo mecânicas um pouco mais complexas, como fabricação de pães.
Um detalhe que jogadores mais recentes talvez não tenham vivenciado: Rookgaard tinha um movimento considerável de jogadores. A saga em busca do clássico nível oito, que permitia seguir para o continente principal, nem sempre era tão rápida. Existiam algumas estratégias, como por exemplo, juntar algum dinheiro nos primeiros níveis (muitas vezes vendendo comida para os NPCs) e comprar, de outros jogadores, uma Mace ou uma rara Katana, que estavam entre as armas mais poderosas de Rookgaard. Ou seja, até mesmo a cultura de negociar itens já estava presente no jogo desde muito cedo.
Mas afinal, os jogadores precisavam aprender tudo na raça?
E aqui a resposta é um pouco surpreendente: não deveriam!
Nem todos os jogadores, especialmente os que começaram quando criança, perceberam, mas Rookgaard apresentava muito conteúdo que buscava ensinar a respeito do jogo. Mas então, por que isso não ficou claro para todos?
Porque Tibia foi projetado para simular uma mesa de RPG, portanto, todo esse conteúdo era apresentado à moda antiga!
Academia de Rookgaard
Bem no centro da cidade, está a academia de Rookgaard. Esse prédio, que também é a morada do icônico Oracle, responsável por levar os jogadores já preparados para o continente principal, abriga uma biblioteca, uma área com algumas camas e um local para trocas, muito similar um depot.

A realidade é: na biblioteca de Rookgaard você pode encontrar diversos livros que, totalmente à moda antiga, dão dicas e detalhes sobre o jogo! A expectativa original de Rookgaard era que os jogadores realmente se comportassem como em uma mesa de RPG: se você quer informações sobre o que fazer, vasculhe o mapa, leia muito, entenda!
Lembra que mencionei a ausência de explicações básicas, como utilizar ropes ou shovels? Existe um livro na academia, entitulado Dungeon Survival Guide, que menciona isso:
Não entre em cavernas sem os equipamentos apropriados. Uma pá e uma corda, em especial, provarão seus valores.
É claro que, como num clássico RPG, você não tinha tudo de bandeja. O livro mencionava a existência e nada mais. Quer mais informações? Pergunte aos NPCs.

A biblioteca também fornece livros sobre os monstros existentes na ilha (Monsters in Rookgaard I e II) e um livro que contém dicas de combate (Tactics Handbook). Esses livros detalham como cada monstro tende a se comportar e dão uma noção do nível de dificuldade de cada um deles. Aqui também entram algumas dicas sobre o que fazer em certas condições, como um envenenamento. Um detalhe interessante é que dois monstros ficaram intencionalmente de fora do texto, mencionados apenas como other beasts: minotaur e orc spearman.
Pode parecer simplista, porém, é muito válido: o autor dos livros tinha conhecimento sobre determinadas criaturas, porém, em um mundo tão amplo, é natural que criaturas desconhecidas existam. Os livros também dão algumas dicas de conteúdo futuro. Ao mencionar os orcs, o autor cita a sorte de nunca ter encontrado orcs mais poderosos, como warriors ou berserkers, monstros que o jogador encontrará no continente principal.
Adicionalmente, existia uma sala de treinos no subsolo da academia. Atrás de uma porta trancada, cuja chave podia ser adquirida, era possível encontrar quatro monstros aprisionados, todos eles presentes nos livros: bug, wolf, troll e spider.

O Oracle, originalmente, permitia a escolha de uma entre três cidades: Carlin, Venore ou Thais. Ora, mas como o jogador poderia escolher qualquer uma delas, dado que nunca soube a nada respeito? Há um livro na academia explicando não somente elas, mas também Fibula, Ab’Dendriel e Kazordoon, cidades free account existentes na época.
Há ainda livros que explicam o conceito de runas e magias instantâneas e como utilizá-las. Outros quatro livros definem as quatro vocações, buscando auxiliar o jogador de primeira viagem nessa decisão.
Por fim, existem livros clássicos de roleplay, os quais trazem toda a história da criação do universo do Tibia (também disponível no site oficial), histórias de alguns viajantes, contos e até mesmo um livro sobre o propósito de Rookgaard.
De agora em diante, todos os novos heróis acordarão na sagrada e protegida ilha de Rookgaard. Apenas as almas mais fortes e mais preparadas poderão viajar ao continente.
The Soulvortex
Concluindo: Rookgaard apresentava uma experiência inicial que, por sua data de criação, talvez fizesse sentido para os jogadores da época. Com o passar dos anos e a evolução natural dos jogos eletrônicos, novos jogadores acabaram por se afastar dessa cultura tão baixo nível, e algumas expectativas em relação a primeiro uso foram criadas, ou seja, as pessoas passaram a esperar guias e tutoriais.
E assim, Rookgaard começou a mudar!
O primeiro tutorial
Oito anos após a criação de Rookgaard, a CipSoft deu o primeiro passo para melhorar a primeira experiência de jogo. No dia 02 de Julho de 2008, na versão 8.2, Rookgaard ganha duas extensões: Tutorial Island e Island of Destiny!
Tutorial Island

Novos jogadores não mais nasciam no templo de Rookgaard, mas sim no extremo oeste dessa pequena ilha. Aqui o jogador passava por pequenas missões que buscavam ensinar o básico do jogo: como interagir com NPCs, usar itens como rope e shovel, subir e descer escadas, empurrar itens, comer, pegar loot e a fazer pequenas missões e utilizar o quest log para rastreá-las.
Com isso, o jogador chegava em Rookgaard já no nível dois, com uma noção um pouco melhor do que fazer. Jogadores experientes, naturalmente, podiam optar por pular o tutorial.
Atualmente, a Tutorial Island é inacessível.
Island of Destiny

O novo destino dos mais fortes e preparados!
Com a adição dessa segunda ilha, o Oracle deixou de enviar os jogadores diretamente para a cidade escolhida, passando a mandá-los para essa pequena ilha. Aqui o jogador interage com NPCs que explicam em mais detalhes cada vocação.
A ilha ainda existe, porém, está em quase completo desuso nos dias atuais.
Uma vez que o jogador escolha a vocação, um pequeno set inicial de equipamentos também é disponibilizado. Também é possível passar um tempo nas cavernas da ilha, caçando alguns monstros, o que costumava garantir o nível 10 rapidamente.
Uma vez que o jogador atinge o nível 10, ele é automaticamente expulso da caverna e forçado a seguir para o continente.
Apesar de a ilha ter melhorado a experiência geral, ainda havia um problema: novos jogadores escolhiam sua primeira vocação apenas com base nas instruções dos NPCs, salvo conteúdo externo disponível na Internet. O risco era relativamente alto, afinal, imagine: uma pessoa que nunca jogou Tibia antes optou por ser um Sorcerer! O que acontece se ela não gostar da jogabilidade daquela vocação? Exato, seria necessário criar um novo personagem e passar novamente por todo o processo até o nível oito. Se imagine nessa situação, você continuaria jogando?
Assim, no dia 12 de Dezembro de 2012, na versão 9.8, surgiu o Festival of Initiaties!
Festival of Initiates
O festival foi a primeira tentativa de dar um gostinho de cada vocação para os jogadores antes que eles fizessem a fatídica escolha, através de um anexo adicionado logo no início da Island of Destiny!
Jogadores que chegam na ilha passam por uma série de barracas. Cada uma delas dá alguns poderes de uma das vocações, e permite que o jogador mate alguns monstros com eles.
Com isso, vem o apredizado de que Knights recorrem a combate corpo-a-corpo (experiência mais próxima de Rookgaard), Paladins utilizam armas a distância (mecânica também existente em Rookgaard) e Sorcerers e Druids utilizam magias e runas.
Essa foi a última alteração feita em Rookgaard. Antes dela, entretanto, houve um pequeno revamp em algumas áreas da ilha.
O Revamp de Rookgaard
Ainda na tentativa de preparar melhor os novos jogadores e tentá-los um pouco mais com o tipo de conteúdo que estaria por vir no continente principal, no dia 06 de Julho de 2011, versão 9.1, Rookgaard passou por um revamp.

A academia de Rookgaard passou por mudanças drásticas. A antiga sala de treinamento foi removida, e deu lugar a uma exposição de itens e monstros que existem no continente principal. Com isso, tornou-se impossível de obter a chave 4600, que abria a porta da sala. Esse detalhe fez com que a chave se tornasse um raro item colecionável.
Uma quest line foi adicionada: The Rookie Guard Quest! Essa foi a maior quest já adicionada em Rookgaard, e segue exatamente a mesma estrutura das quests do continente principal. NPCs entregam missões que seguem uma linha cronológica. Junto com essa quest foi introduzido um novo local, a Rookgaard Orc Fortress, morada de orcs e orcs spearman. Além deles, um boss também habita o local, Kraknaknork, sendo parte fundamental da quest.
Após essas alterações, com exceção da introdução do já mencionado Festival of Initiates em Island of Destiny, a ilha permaneceu inalterada. Na verdade, pouco tempo depois, o destino de Rookgaard foi selado.
Dawnport: uma nova experiência
Rookgaard é um ícone do Tibia… o início da jornada! Infelizmente, apesar de todo o saudosismo, os tempos mudaram. Ou melhor, com o tempo, o público mudou!
Com o passar dos anos novos jogos surgiram, e grande parte deles apresentavam experiências iniciais muito mais rápidas. Jogadores costumavam gastar alguns minutos nos tutoriais e, rapidamente, passavam para o conteúdo principal. E essa expectativa chegou ao Tibia!
A realidade é que Rookgaard, infelizmente, tomava muito tempo. Um lugar muito grande e com poucas instruções sobre o que fazer. A ilha se tornou mais instrutiva com o tempo, porém, não refletia exatamente a realidade do jogo, afinal, os jogadores passavam horas (ou dias) jogando com um personagem sem vocação, enfrentando monstros com pouquíssima dinâmica, afinal, exceto o orc spearman, que surpreende com ataques a distância, todos os monstros de Rookgaard são baseados em ataque corpo-a-corpo.

Buscando acompanhar os novos tempos, a CipSoft abandonou a ideia de melhorar Rookgaard e optou por criar uma nova experiência do zero. E assim, nasce Dawnport!
Essa pequena ilha já permite de cara que o jogador experimente cada vocação, utilizando magias, armas e runas que simulam a realidade do jogo com certa perfeição. Por ser um ambiente menor, jogadores conseguem atingir o nível oito em poucos minutos, ou seja, ainda que o jogador se arrependa de escolher uma vocação a qual não se adaptou (mesmo com a possibilidade de testá-la), criar um novo personagem e seguir para o continente principal se tornou muito mais rápido.
Bônus: mecânica exclusiva de Rookgaard
Curiosamente, existe uma mecânica em Rookgaard que foi parcialmente esquecida pelos jogadores e, aparentemente, a própria CipSoft a utiliza com grande parcimônia: a antiga Orc Language.
Nas montanhas ao norte da cidade, existe um NPC chamado Blind Orc. A particularidade desse NPC é que só é possível se comunicar com ele em seu idioma nativo, ou seja, Orcish. Basicamente, esse velho orc, que habita Rookgaard desde versões muito antigas do jogo, vende armas e armaduras. Em especial, ele é o único NPC da ilha capaz de vender bows e arrows. Orcish pode ser aprendido com uma NPC de Rookgaard, chamada Amber.

Apesar de esquecida, Orcish é um elemento extremamente icônico no mundo dos RPGs de mesa. Sistemas de RPG tradicionais, como Dungeons & Dragons, que inspirou a criação do Tibia, já contavam com múltiplas raças, cada qual com seus costumes e idiomas próprios.
Existem outros idiomas e mecânicas relacionadas a eles no jogo, porém, pouco tem utilidade. O idioma dos Djinns, por exemplo, serve apenas para iniciar a quest line. O NPC Yasir utiliza um dialeto oriental, porém, também atende pelos tradicionais “Hi” e “Trade”. Alguns idiomas são simplesmente indecifráveis, como a lendária Bonelord Language. A Cyclops Language, por sua vez, só é parcialmente falada pelo NPC A Sweety Cyclops, que reside em Ab’Dendriel, visto que não existem mais cyclops vivos que saibam falar o idioma.
Conclusão
Rookgaard, sem dúvida, é um local que desperta muitas emoções em jogadores mais antigos. Uma ilha que foi desenhada com um propósito louvável e adequado a uma época que, infelizmente, chegou ao fim devido a evolução natural dos jogos e da adaptação do público a eles. Evolução que essa bela ilha foi incapaz de acompanhar.
A ilha, naturalmente, continua existindo no jogo. Muitos rookstayers ainda jogam ativamente no local, ainda que seu movimento já não seja mais o mesmo. Alguns jogadores curiosos acabam por criar personagens em Rookgaard para conhecer sua experiência. Estes, infelizmente, jamais conhecerão, de fato, o que Rookgaard foi em seus dias de glória.
E você, meu caro? Teve a oportunidade de jogar em Rookgaard no passado? É um rookstayer? Conte para nós suas experiências aqui nos comentários!
Imagens gentilmente cedidas por Dark Gladir.
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